Os quatro bombeiros de Castro Daire que em finais de Novembro, enfrentando um nevão com temperaturas negativas e nevoeiro entenso, subiram a pé à serra de Montemuro para salvar dois seguranças do parque eólico, foram agora distinguidos com o "Prémio de Mérito" atribuído pela Liga dos Bombeiros Portugueses.
A distinção foi recebida "com orgulho" no quartel dos Bombeiros Voluntários de Castro Daire, porque "premeia uma equipa que se disponibilizou para a acção" e não apenas um acto individual, disse ontem o comandante Paulo Matos.
Fernando Albuquerque, Carlos Almeida, Mário Ferreira e Bruno Esteves não vão esquecer o dia em que, depois de um esforço tremendo, pondo em risco a própria vida, ganharam "uma alma nova" ao resgatar em segurança os dois homens, que já estavam sem comida, sem combustível para se aquecerem e sem electricidade.
Mesmo sem fatos adequados para a neve usaram o equipamento de protecção individual para combate a incêndios urbanos, nem um GPS portátil, raquetes ou qualquer equipamento de apoio, os quatro bombeiros puseram-se a caminho, serra acima. A neve caía com intensidade, atascando-os até à cintura, a temperatura desceu aos cinco graus negativos e a visibilidade era nula devido ao nevoeiro.
Ao fim de duas horas de caminhada avistaram os dois seguranças, já cansados, gelados e esfomeados, tendo ainda de descer a serra com eles pelo mesmo caminho, percorrendo os oito quilómetros mais longos das suas vidas. À chegada, um dos bombeiros estava com dificuldades em respirar, devido ao arrefecimento das vias respiratórias, recuperando após tomar uma bebida quente.
Antes de avançarem para o resgate apeado, foi pedida a moto de neve dos bombeiros de Seia, que só chegou perto do final da operação. Também se tentou o salvamento com o helicóptero de Santa Comba Dão, frustrado por falta de visibilidade.
PORMENORES
ENTREGA EM ESPINHO
O prémio será entregue no próximo dia 30 de Maio, numa cerimónia agendada para as 16h00 no Centro Multimédia de Espinho.
DIA DO BOMBEIRO
A entrega do prémio integra o calendário de comemorações do Dia Nacional do Bombeiro.
DISCURSO DIRECTO
"TIVEMOS DE EMPRESTAR AS NOSSAS LUVAS" (F. Albuquerque, 32 anos)
Levávamos luvas de combate a incêndios urbanos, mas durante a descida da serra tivemos de as retirar para as emprestar aos dois seguranças e fazer o resto do percurso com as mãos dentro dos bolsos.
"AO VÊ-LOS ATÉ GANHÁMOS UMA ALMA NOVA" (M. Ferreira, 24 anos)
Quando chegámos ao ponto de encontro e não os vimos começámos a ficar desesperados, mas assim que avistámos os dois vultos até ganhámos uma alma nova.
"TINHA DE SER FEITO APESAR DO PERIGO" (B. Esteves, 22 anos)
A decisão de avançar foi tomada em conjunto, tínhamos a noção do perigo, mas tinha de ser feito. Foi muito difícil, não se via o caminho e a neve não deixava avançar."
"SE PARÁSSEMOS MORRÍAMOS" (C. Almeida, 33 anos)
Na descida, os seguranças queriam parar para descansar, mas nós sabíamos que morríamos se parássemos, pois estava a anoitecer e a neve não parava de cair."
|
Sem comentários:
Enviar um comentário